Enter The Void — Uma experiência visual sobre a vida e a morte. A Viagem alucinante de Gaspar Noé.

Shannon Souza
5 min readDec 5, 2022

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Enter The Void é um filme extremamente envolvente que nos mostra como a aceitação da morte é necessária para nos libertar de nossas prisões mentais. É um filme único que explora questões místicas, filosóficas e espirituais de forma alucinante.

O filme Enter The Void é uma experiência visual única que explora o caminho da vida e a morte. Dirigido por Gaspar Noé, o filme foi um sucesso de crítica ao explorar ideais místicos, filosóficos e espirituais. O filme segue a história de Oscar, um jovem de Tóquio que se envolve em tráfico de drogas. Quando ele é morto em um tiroteio policial, sua alma se separa de seu corpo e inicia uma jornada de viagem astral. Enquanto isso, sua irmã mais nova, Linda, tem que lidar com a perda de Oscar e encontrar uma maneira de seguir em frente.

Em relação a Gaspar Noé, ou se ama ou odeia, não existe meio-termo na sua filmografia, e a prova é mais evidente com a chegada de Enter The Void, a sua nova obra. Noé ficou nas bocas do mundo com Irréversible em 2002, que acendeu uma discussão no meio da comunidade cinéfilo devido ao seu conteúdo como também do seu modelo narrativo. Foi uma fita de cujo conteúdo foi de enorme teor de violência gráfica e sexual e tudo em doses generosas, entre os quais apresentou uma repugnante, detalhada e longa sequência de violação á personagem de Monica Bellucci, o qual obviamente fora referenciada e analisada por fins críticos e de aclamação.

Estimulando a mente e o corpo, o cinema provocante de Gaspar Noé venera o sexo e as drogas. Descaradamente controversas, suas obras são fascinadas pelas extremidades da condição humana, mas também encontram beleza e poesia em meio à fealdade das emoções violentas. Embora a sensibilidade artística de Noé possa ter sido interpretada como niilista, por trás dos comportamentos destrutivos de seus personagens, existe também um profundo desejo de liberdade e intimidade. Uma viagem alucinante e colorida pelo submundo decadente de Tóquio, Enter the Void: Viagem Alucinante (2009) se livra de toda a semelhança com a racionalidade enquanto traduz de forma hipnótica a influência das drogas psicodélicas para a tela. — Mubi

Em Enter the Void, que entre nós apresenta o subtítulo português de Viagem Alucinante, titulo que não se encontra muito longe da verdade no que refere a caracterizar a fita, reúne todo os ingredientes já usuais da carreira do cineasta, todos encenando um teatro de morte sob o olhar atento da câmara ao estilo God’s Eye (plano visto do teto), na segunda parte e na primeira pessoa na parte inicial. Gaspar Noé concretiza uma viagem metafisica e explora a inexplorável vida após morte de uma forma pouco atraente, dolorosa, deprimente e também decadente, citando com força o Livro Tibetano dos Mortos e sublinhando conforme a história do seu protagonista, Óscar (Nathaniel Brow), um jovem traficante de drogas que vive em Tóquio e fica interessado no conteúdo do dito livro. Porém é morto pela polícia nipónica quando um dos seus clientes o denunciou. A partir daí, como se a alma de Óscar vagueasse sobre aqueles que lhe estão mais próximos, somos apresentados a ocorrências do passado, presente e futuro, demonstrando todo o modelo de pós-morte ditado por Livro Tibetano dos Mortos.

Eis uma experiência que não deixará ninguém indiferente, sendo que na minha humilde opinião a primeira parte narrada na primeira pessoa seja a incursão mais inteligente e interessante de todo o filme. Um dos feitos bem conseguidos é quando Gaspar Noé aproveita desse conceito narrativo para garantir a falada viagem alucinante que havia prometido aos espectadores, o qual sob o efeito fictício de drogas dá um “show” visual mais próximo da realidade quer a nível de visualização como atém mesmo sensorial. Na segunda parte caímos em território de Noé, o qual a depressão invade as audiências perante uma decadência humana e um desespero sem fim enquanto o cineasta brinca com modelos narrativos e com o experimental técnico.

Ninguém garante que Enter the Void é um “feel good movie” nem algo de belo e visualmente maravilhoso, se existisse um gênero oposto obviamente a obra de Gaspar Noé estaria dentro do grupo. Todavia esta Viagem Alucinante é uma “trip” a uma Tóquio sob o efeito de alucinógenos, uma profunda analise às crenças mortuárias que definem a vida e a julgam inconscientemente. Um muito pesado filme (e longo) para ver e acender a discussão.

Enter the Void se passa em um mundo noturno de viagens de drogas, heavy bass house, clubes de strip-tease e hotéis românticos, e uma intensificação extrema do clichê visual das cidades japonesas, neon fluorescente. É um lugar terrivelmente vazio, desprovido de personagens, moralidade, sentimentalismo e drama. Não há nada com o que se preocupar, exceto com o esplendor visual, a invenção e as ideias que se movem ali. Enquanto Noé faz alguns erros grosseiros ao alcançar as estrelas das grandes explorações estruturalistas de nascimento, vida e morte, Enter the Void é uma visão de um tipo de filme pós-mainstream que conscientemente elimina tudo o que pode ser afiado sobre o cinema além da estética. E a estética é tudo o que resta: o fluxo astuciosamente desconfortável das falsas tomadas longas que descem ruas e escadas, mergulham em clubes pulsantes, movem-se pelas cabeças dos personagens, — tudo são ideias transformadas em imagens em movimento, audacioso, mas sem vida, vibrante e taciturno.

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“Você se lembra daquele pacto que fizemos? Prometemos nunca nos separar.”

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Shannon Souza

Estudo para ser Filósofo, leio para brincar de escrever e Penso para ser eu mesmo — ou ao contrário. (Bacharel em Filosofia pela UFG)